Finita como flores

23 de fev. de 2014

ROSAS, GRAMA, RIO, RISOS, RISCOS E ESPINHOS

Sonhava com isso: uma longa estrada de terra que eu não conhecesse, trilhando sem saber se acertara o caminho, e ao final a surpresa: uma cachoeira do tamanho de um prédio esvoaçando os nossos cabelos com seus pingos miudinhos. Em algum lugar há um deus que se encontra, feito de água, de pedra, de passarinhos. Fujo dos desconfortos, sei. Fujo do que era amor e foi morto, fujo dos sonhos que tinha contigo e que eram inacreditáveis como história inventada. Lá, onde os rios nos circundam, toco a desigualdade, misturo-me, ensino tabuada e aprendo a ganhar beijos. Lá, onde o rio corre dentro de casa e as rosas enriquecem as fachadas coloridas, não há grades cercando edifícios, nem câmeras de vídeo garantindo nossa segurança, há olhos curiosos que nos espiam pelas janelinhas que dão na calçada fina e flores multicores por todo o canto. Com que encanto as crianças se enfeitam para dançar no caminhão que se transformou em palco, onde o violeiro enche o arraial de melodia porque de qualquer lugar se ouve a cantoria e é sábado de aleluia, por isso estamos contentes. Na cidade grande agora chove e eu uso uma espécie de galocha caipira como um emblema. Não sei se chove lá, onde deixei um fusca balzaquiano e um jardim inteirinho repleto de mudas pequeninas garantindo que eu um dia também terei rosas, grama, rio, risos, riscos e espinhos.

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