Sonhava com isso: uma longa estrada de terra que eu não
conhecesse, trilhando sem saber se acertara o caminho, e ao final a surpresa:
uma cachoeira do tamanho de um prédio esvoaçando os nossos cabelos com seus
pingos miudinhos. Em algum lugar há um deus que se encontra, feito de água,
de pedra, de passarinhos. Fujo dos desconfortos, sei. Fujo do que era amor
e foi morto, fujo dos sonhos que tinha contigo e que eram inacreditáveis como
história inventada. Lá, onde os rios nos circundam, toco a desigualdade, misturo-me,
ensino tabuada e aprendo a ganhar beijos. Lá, onde o rio corre dentro de casa e
as rosas enriquecem as fachadas coloridas, não há grades cercando edifícios,
nem câmeras de vídeo garantindo nossa segurança, há olhos curiosos que nos
espiam pelas janelinhas que dão na calçada fina e flores multicores por todo o
canto. Com que encanto as crianças se enfeitam para dançar no caminhão que se
transformou em palco, onde o violeiro enche o arraial de melodia porque de
qualquer lugar se ouve a cantoria e é sábado de aleluia, por isso estamos
contentes. Na cidade grande agora chove e eu uso uma espécie de galocha caipira
como um emblema. Não sei se chove lá, onde deixei um fusca balzaquiano e um
jardim inteirinho repleto de mudas pequeninas garantindo que eu um dia também
terei rosas, grama, rio, risos, riscos e espinhos.
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