Finita como flores

18 de jul. de 2010

Teste vocacional para a terceira idade

A alegoria que melhor representa as guinadas que quero dar no meu percurso é a roleta onde aposto quase todas das minhas fichas em determinado acontecimento futuro, cor/número, e quando, no girar aleatório do jogo, quero as rédeas da minha vida, esforço-me para ter controle sobre elas, faço tudo direitinho e ainda assim sinto-me num cassino planejando as próximas jogadas, as próximas conquistas, à mercê da sorte e do azar desprovidos de qualquer planejamento. Olho pra trás e faço um balanço entre empenho e destino e o saldo é um certo desequilíbrio entre o rumo que eu traçava no mapa do papel da mente e os resultados obtidos. Queria ser livre leve solta e fui forçada pelas circunstâncias a ser metódica. Queria um companheiro lúdico e estou free. Queria estar me aposentando como meus contemporâneos mas esqueci de pagar o INPS e me vejo escolhendo o curso que vou fazer, insegura, sonhando com um teste vocacional para a terceira idade, como bem disse a Rita Abreu. Rejuvenesço, quando teço planos para uma vida nova. Agora eu vou pra lá, penso, quase torcendo o volante, mas a vida de quem foi alternativa e autônoma tantos anos se impregna de uma sensação, mesmo enganosa, de desgoverno e, ainda que servidora pública há seis anos, sinto-me numa balsa à deriva, em busca de terra firme que existirá em algum ponto do meu se-é-que-existe Destino. Remo sem conhecer a posição das estrelas e tenho a nítida impressão de estar dando tiro pra tudo quanto é lado quando na verdade é mentira. Obstinadamente tracei um plano e pelejo. Mas não sou dona absoluta do meu futuro, como ninguém é. Canto aquela velha canção que mamãe ouvia: Quem eu quero não me quer / quem me quer mandei embora / e por isso já não sei / o que será de mim agora. Não existe a mínima possibilidade de voltar atrás e aceitar aquele emprego na Editora Abril, que me ofereceram em 1988, que recusei porque havia sido convidada para participar do programa de entrevistas do Clodovil. Dispensei empregos em prol das performances poéticas, recitar pelo mundo meus versos de cor. Meus cinco minutos de Glória. Mamãe sempre dizia: Faz um concurso público, minha filha. Eu ria. Ela, tadinha, morreu sem ver a filha poeta funcionária, ou talvez esteja vendo, gargalhando, e dizendo no Céu: Quem ri por último ri melhor.

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