Finita como flores

23 de fev. de 2014

O PRIMEIRO DEFEITO A GENTE NUNCA ESQUECE

Ele deu defeito. Foi-se sem mexer em feriados.  As mulheres não conhecem os sentimentos do homem, mas o seu funcionamento.
Tardiamente preparo um futuro que já chegou enquanto vivo acontecimentos episódicos. Os pés e os prós estão bem plantados no chão e eu tenho isso: casa, trabalho, fusca, filha.
A Lapa fervilha. Mas eu não gosto de festa de rua. Viajo, numa aula, para a América pré-Colombiana e conheço a narigueira. Quando se interfere no imaginário de um grupo, ele se desestrutura e se torna subjugável. O Mercado superexpõe o artista e com isso a arte perde sua magia. Não penso em publicar livros como não pensava quando escrevia desde antes dos vinte anos. Outra coisa tem me aproximado de quando eu tinha tão pouca idade: uma desorientada saudade, sem alvo fixo.
Os Astecas receberam os espanhóis como deuses. E foram dizimados por eles. Os Astecas conheciam o zero, o vazio e o nada. Eram guerreiros e não faziam alianças. Os Astecas ficaram horrorizados com Cristo na cruz, recusavam-se a rezar para um deus morto. Preferiram Nossa Senhora. Mais bem vestida, limpa, viva, calma, pele boa.

Fui tupinambá e preciso ser entendida levando-se em conta este aspecto. Circular pelada pela mata como uma criança refrescando-se em cachoeiras, e possuindo um comprovado riso frouxo deixou em nosso povo marcas profundas, por muitas e muitas encarnações a fio. Conosco era assim: cada morto tinha direito a ser chorado histericamente durante algumas horas seguidas. Depois a vida continuava. Os prisioneiros de guerra eram tratados como membros da tribo até que engordavam, eram mortos e ritualisticamente comidos. Morria-se, desta forma, como um herói, jovem e exigindo vingança. Ou como um sábio, velho e dando conselhos. Nos novos tempos, a morte perdeu o estilo. Envelhecer não é de bom tom nas rodas que usam grife. Ora, com tanto recurso. 

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