Finita como flores

23 de fev. de 2014

O QUE EU VIM PEGAR AQUI?

A insônia e os “brancos” atingem pessoas de todas as idades, e populações inteiras passam o tempo em busca de sono e de palavras. Nesse momento há milhares de seres humanos com a porta do armário aberta e uma cara vazia pensando: o que eu vim pegar aqui? Ou mudas, paradas feito mulas no meio de uma frase e desistindo da palavra: daqui a pouco eu me lembro. Nesse momento há centenas de milhares de pessoas que acordarão no meio da noite. Não há idade para perder sono e palavras. É moda de época. Quando eu era jovem não acontecia. Vovó tinha uma memória de elefante e vovô, um sono de chumbo.

Em que momento perdemos os sonhos e a memória? Resposta: Quando enfiamos um montão de porcarias na cabeça, pensamos em três ou quatro coisas ao mesmo tempo, temos medo do Jornal Nacional, mas assistimos mesmo que com isso esqueçamos tudo de bom que porventura tenho nos acontecido naquele dia, lemos e esquecemos más notícias em frações de minutos, devoramos calhamaços de inutilidades que se fragmentam em instantes, engolimos informações parecidíssimas de CPIs do Congresso misturando siglas e nomes de corruptos no liquidificador da lembrança. E ainda queremos dormir, sonhar e lembrar o nome do autor do livro A incrível e triste história de Cândida Erêndira e sua avó desalmada.

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