Finita como flores

23 de fev. de 2014

QUEM NUNCA COMEU ESTRELAS NÃO SABE O GOSTO

O ser humano é basicamente um bicho que se acostuma. Quem nunca comeu estrelas não sabe o gosto. Assim, dessa maneira, o mundo vai diminuindo. Nunca sair do Brasil, dormir uma noite agarrado, soluçar num ombro amigo, olhar no olho, cobrir-se com lençol de seda, ser aplaudido de pé, passar um mês inteiro de sandália havaiana, nadar pelado, gastar muito dinheiro sem culpas, dormir sob um céu de estrelas, ser amado, aventurar-se. Tentei? Tentaste?
Há pessoas que se acostumam a viver pequenino, a sonhar baixo, a receber beijos indiferentes, a ouvir frases de amor decoradas, a tirar férias para estudar, domingos para ver tevê, sentir medo e achar que é natural. Sofrer dores e não procurar remédios, ziguezaguear na rotina banal e não sentir tédio.
Ora, é possível morrer e continuar transitando, respiração controlada, pressão estável, frases feitas boca afora. Morrer é perder desejos, sonhos, planos, irreverências. A tudo o ser humano pode adaptar-se. Esse é o verdadeiro defunto, o adaptado.

O morto com atestado de óbito tem chances de baixar num terreiro, de alcançar a vida eterna, de renascer minhoca.

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