O ser humano é basicamente um bicho que se acostuma. Quem nunca
comeu estrelas não sabe o gosto. Assim, dessa maneira, o mundo vai
diminuindo. Nunca sair do Brasil, dormir uma noite agarrado, soluçar num ombro
amigo, olhar no olho, cobrir-se com lençol de seda, ser aplaudido de pé, passar
um mês inteiro de sandália havaiana, nadar pelado, gastar muito dinheiro sem
culpas, dormir sob um céu de estrelas, ser amado, aventurar-se. Tentei?
Tentaste?
Há pessoas que se acostumam a viver pequenino, a sonhar baixo, a
receber beijos indiferentes, a ouvir frases de amor decoradas, a tirar férias
para estudar, domingos para ver tevê, sentir medo e achar que é natural. Sofrer
dores e não procurar remédios, ziguezaguear na rotina banal e não sentir tédio.
Ora, é possível morrer e continuar
transitando, respiração controlada, pressão estável,
frases feitas boca afora. Morrer é perder desejos, sonhos, planos,
irreverências. A tudo o ser humano pode adaptar-se. Esse é o verdadeiro
defunto, o adaptado.
O morto com atestado de óbito tem chances de baixar num terreiro,
de alcançar a vida eterna, de renascer minhoca.
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