No meu esconderijo tem uma trilha quase secreta que desemboca na beira de um riacho raso e frio com uma branca queda dágua e muita sombra. O sol vai lá, mas tem que ser cedinho. Colibris, jacus, esquilos, montanhas de pedras redondas onde o sol se demora na careca. Árvores nascem sobre pedras e se enfiam no caule das outras quando há buracos, feito cópulas, porque a vida quer continuar e nos usa, mero instrumento, queimando carnes na fogueira do desejo, mesmo quando já não podemos mais ter filhos, insensata.
No meu esconderijo é silêncio, o barulho é da água e de pássaros estranhos. Lá, não uso sapatos. Lá, não olho espelhos. Na porta da casa tem uma árvore de flor tão vermelha que o mundo não parece hostil e a natureza nos abençoa. Preciso do combustível desse doce e voluntário isolamento. Preciso ir viva ao paraíso nos fins de semana. A rotina me esmaga como uma sola de sapato pisa na formiga. Mas eu conheço um caminho de pedras que metamorfoseia. Hiberno e volto, disfarçada como se fosse a mesma, sem ser.
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