Finita como flores

23 de fev. de 2014

TESÃO SEM BÚSSOLA



Vida diária, chateações brincam de roda: bateria do carro arriada, vazamento nos banheiros. Se pudesse ainda, teria mais filhos, faria mais planos. Penso que é terça e é quarta e quase perco a aula. Confesso que nasci sem bússola e passo direto. Erro o caminho e me desoriento. Preciso de um Norte, de um coração forte, um espírito lúdico.

Meu coração é meu guia. Como tua cicerone, eu atuaria. “Nesse universo tão misterioso e assustador, você disse. Nesse escuro eu não me perco. Mergulho em imagens e poesias sem medo. Não sei onde vou. Ou sei e é segredo. Sei que a vida é etérea, o tempo é o rápido do cabelo curto. Um dia de barba feita. Uma bolha de riso. Um curta, um voo, um show. Se houvesse mais tempo. Mas você é comprometido e eu sou aérea.

E a vida segue assim: empurrando-nos delicadamente, tão delicadamente que pensamos ter domínio sobre nossos trajetos.
Não temos. Eles se fazem sozinhos. Somos prisioneiros de nossas limitações. Privados de escolha. Levo na lembrança o que cabe na mala boa, o que é leve, o que foi bom momento. Deleto na fogueira todo desgosto, deleto mensagens sem ler, bloqueio um remetente sem me envolver. Levo afetos, nenhum desafeto, algumas indiferenças. Esta é apenas mais uma bifurcação do ardiloso labirinto que é a vida humana. 

Agora há uma casa que me espera com rede na varanda, jardim e mar pertinho. Lá sou outra, livre. Índia, criança, Eva. Lá não envelheço. A semana vai ser cheia. Mandei embora a velha amargura.

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