Caio de paraquedas num curso de roteiro por engano. A professora
lê meu nome na chamada e o reconhece, pergunta se eu lhe mandei e-mails.
Desconverso. Tenho vergonha de dizer que estive na mídia em mil novecentos e
oitenta e seis. Depois, loura de farmácia, aciona o Power Point. O item
número um é “diferença entre aptidão e vocação para escrever”. Comenta a
assertiva e assume que gostaria de escrever novelas das sete.
Não digo que a televisão pode mudar o mundo em trinta dias, mas
prefere vender produtos e espalhar más notícias. Vinte lhamas mortas no Peru
são destaques no noticiário enquanto menores infratores reabilitados pela
capoeira são quase um segredo. Há um mundo que canta, dança, escreve,
inventa, mas a grande imprensa não divulga.
Nas linguagens de transmissão oral, os idosos são os depositários
do saber. A escrita pode ser a arte da
distorção. Não aprenda nada pela televisão. Confirme com um livro. Consulte
um idoso culto. Ou mergulhe dentro de si mesmo. Encontrarás a mais
requintada sabedoria.
A professora cita a fórmula invencível dos roteiros americanos em
que a trama, o clímax e o desfecho têm tempo certo e receita, e afirma que
trabalhando assim se vende o produto. Quase levanto o dedo e digo que prefiro
os filmes iraquianos aos de Oscar, que não sigo novelas nem manuais para ganhar
dinheiro. Que sou poeta por maldição, dom, prêmio ou desgosto. Que não
escrevo pensando em retorno, que psicografo.
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