Finita como flores

23 de fev. de 2014

PERDENDO SONO E PALAVRAS

Caio de paraquedas num curso de roteiro por engano. A professora lê meu nome na chamada e o reconhece, pergunta se eu lhe mandei e-mails. Desconverso. Tenho vergonha de dizer que estive na mídia em mil novecentos e oitenta e seis. Depois, loura de farmácia, aciona o Power Point. O item número um é “diferença entre aptidão e vocação para escrever”. Comenta a assertiva e assume que gostaria de escrever novelas das sete.
Não digo que a televisão pode mudar o mundo em trinta dias, mas prefere vender produtos e espalhar más notícias. Vinte lhamas mortas no Peru são destaques no noticiário enquanto menores infratores reabilitados pela capoeira são quase um segredo. Há um mundo que canta, dança, escreve, inventa, mas a grande imprensa não divulga.
Nas linguagens de transmissão oral, os idosos são os depositários do saber. A escrita pode ser a arte da  distorção. Não aprenda nada pela televisão. Confirme com um livro. Consulte um idoso culto. Ou mergulhe dentro de si mesmo. Encontrarás a mais requintada sabedoria.
A professora cita a fórmula invencível dos roteiros americanos em que a trama, o clímax e o desfecho têm tempo certo e receita, e afirma que trabalhando assim se vende o produto. Quase levanto o dedo e digo que prefiro os filmes iraquianos aos de Oscar, que não sigo novelas nem manuais para ganhar dinheiro. Que sou poeta por maldição, dom, prêmio ou desgosto. Que não escrevo pensando em retorno, que psicografo.

Nenhum comentário: