Finita como flores

23 de fev. de 2014

A VIDA SERÁ CURTA DE QUALQUER MANEIRA


Minha avó materna e meu pai morreram com pouco mais de cinquenta anos. E eu, cinquentona desajustada, uso saia justa e arrisco meio umbigo de fora. O desejo, quando volta, me alegra. O sono, quando perco, me irrita. Os amores mais fortes permanecem congelados como alimentos esquecidos no freezer.  Não  são comida caseira feita na hora.  Ao  longe,  um  copo  quebra, um samba toca, burburinhos da Lapa. Estou no limbo.
Sou coroa, meio umbigo de fora, tenho uma casa alugada no útero de Minas e outra no coração de Búzios. Não quero que me classifiquem. Minha filha disse que sou barroca porque enfeito demais o apartamento. Tenho horror ao vazio e ao silêncio. Meu ex-amante, que nunca se explica, diz que eu sou prosaica, mas não se lembra de ter dito isso.  A memória dos ex cabe numa chicrinha.

Meu desejo é como uma caravela em busca de Américas. Quero um continente totalmente novo e assumo o risco do naufrágio. Nunca uma geração que nasceu nos anos cinquenta viveu os cinquenta depois da virada do século, e por isso eu sou parte de uma fatia de enxutas que não pode ser estudada agora. O objeto da pesquisa está vivo e incerto. Deixem-me para depois. Integro uma experiência em andamento, calma! O coração raramente, mas dispara. Hormônios ainda gritam, prazo vencendo. Esperemos. A vida será curta de qualquer maneira. Eu estou cansada, mas estou inteira.

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