1 de set. de 2009
Questão de tempo
Também sou da água salgada. Implico com as sombras projetadas pelas árvores nas beiras dos rios, e com as pedras escorregadias, onde transitamos feito macacos, pobre coluna, aguinha rasa, miúda, fria. Gosto de andar rápido pela orla com o vento na cara e o sol fritando meu corpo, cabelos, peito do pé. Gosto de calor, espaço livre. Ficar de biquíni o dia inteiro e de noite. Nem tenho roupa de inverno direito. Nem de sapato fechado eu gosto. Mas fiquei de mal com Búzios. Búzios me traiu porque cresceu. E exagera, traz lembranças demais. Maravilhosas e tristes, foi tempo vivido forte, vivido às pressas, o mundo ia acabar e eu não podia perder um segundo. Lembro e me canso. Lembro e me invejo jovem quando minutos acumulavam lembranças e hoje a vida bate lenta e curta como um trailer de um filme em show-motion. Perdas demais. Pensava que os amigos morriam quando a gente ficava velhinha, mas pensava tudo errado, em cada canto uma história, uma morte, um enlouquecimento, o nascimento de um burguês. Não fiz amigos novos lá. Aqueles que mantenho, carrego numa bandeja de prata. Em Búzios não me desligo, carrego os quilos de sonhos perdidos, arrasto saudades enferrujadas, fico pesada, é um passado e tanto a cada passada. Não sei quanto tempo vai durar, mas hoje curto a solidão da serra. Vai ser quanto for necessário. Sei que a placidez das pedras paradas na beira do rio vão me colocar leve, em breve, em movimento. É uma questão de tempo.
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