Queria o
que não pude. Mudei de ideia mil vezes.
Vivi
perdida no labirinto da criatividade. Medo do amanhã, do ridículo, das novas e
inevitáveis perdas. Não há mais pai nem
mãe para morrer. Profissão para
escolher. Amor imprevisto para nos surpreender, ingênuos, confiantes, desavisados, porque a
qualquer momento o coração poderia disparar e acontecer. Não há mais anseios,
só ansiedades.
Búzios me traiu porque cresceu. E exagera, traz lembranças demais. Maravilhosas e
tristes, foi tempo vivido forte, vivido às pressas, o mundo ia acabar na guerra
fria e eu não podia perder um segundo. Lembro e me invejo jovem quando minutos
acumulavam lembranças e hoje a vida bate lenta e curta como um trailer de um
filme em show-motion.
Perdas demais. Pensava que os amigos morriam quando a gente ficava
velhinha, mas pensava tudo errado, em cada canto uma história, uma morte, um
enlouquecimento, o nascimento de um burguês. Não fiz amigos novos lá. Aqueles
que mantenho, carrego numa bandeja de prata. Em Búzios não me desligo, carrego
os quilos de sonhos perdidos, arrasto saudades enferrujadas, fico pesada, é um
passado e tanto a cada passada.
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