Sonho que vou
viajar pra fora.
Chego em
outro país. Abro um envelope com uma carta de minha mãe.
Está tudo
no papel: a língua que se fala, o mapa, a capital, o nome da moeda, o fuso
horário, algum dinheiro.
Informações
básicas para que eu não me perca, não me desoriente, e me comunique no
estrangeiro.
Sonho que sei: no final da volta ao mundo nada do que eu experimentar será mais belo que o mar de Ipanema.
Trata-se de um sonho autoexplicativo. Como na adolescência, em que a gente
se pergunta quem somos, nem menina, nem jovem, nem velha, mulheres reinventadas, estanhas,
estrangeiras, evas recriadas.
Assim
emigro para uma nova vida adulta em
que tenho que me valer de novos símbolos.
É minha mãe quem me dá o manual, a palavra, a moeda, os instrumentos para que eu me
constele.
Mas levo
Ipanema para sempre Ipanema como um epicentro.
Um norte que não se desloca.
Serei a mesma falando outra
linguagem, usando
outra moeda de troca,
outros valores, outro calendário não mais marcados pela menstruação,
perco meu sangue pontual e crio outras olimpíadas.
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