Finita como flores

17 de jul. de 2018

A EXPOSIÇÃO IMPOSSÍVEL

 Sonho que vou viajar pra fora.
 Chego em outro país. Abro um envelope com uma carta de minha mãe.
 Está tudo no papel: a língua que se fala, o mapa, a capital, o nome da moeda, o fuso horário, algum dinheiro.
 Informações básicas para que eu não me perca, não me desoriente, e me comunique no estrangeiro.
 Sonho que sei: no final da volta ao mundo nada do que eu experimentar será mais belo que o mar de Ipanema.
 Trata-se de um sonho autoexplicativo. Como na adolescência, em que a gente se pergunta quem somos, nem menina, nem jovem, nem velha, mulheres reinventadas, estanhas, estrangeiras, evas recriadas. 
Assim emigro para uma nova vida adulta em que tenho que me valer de novos símbolos
É minha mãe quem me dá o manual, a palavra, a moeda, os instrumentos para que eu me constele. 
Mas levo Ipanema para sempre Ipanema como um epicentro.
 Um norte que não se desloca.
 Serei a mesma falando outra linguagem, usando outra moeda de troca, 

outros valores, outro calendário não mais marcados pela menstruação, 

perco meu sangue pontual e crio outras olimpíadas.

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