Voltei para a minha terra. Vim com poucos pertences, a invisível bagagem. Criei um filho enquanto estive fora, voltei e não reencontrei todos os amigos. Voltei sem pai nem mãe, plantei os pés no chão durante a ausência necessária. A vida anda em círculos. Terei que deixar para trás tudo que não voa.
O pescador chama-se Heráclito. Sabe que ganhou o nome de um filósofo que dizia que o mar nunca é igual. Heráclito me convenceu, depois de longa insistência, a remar até a boia amarela e lá esperar a tartaruga surgir. Remar, remei. Esperar, não esperei. Dei meia volta e remando voltei. Sou uma mulher vivida, já vi tanta coisa, inclusive tartaruga, nadando e tudo. Já tomei até sopa dela, antes da natureza perigar. Heráclito quer me falar das mágicas da água de lá. Mas lá sou antiga como a tartaruga, sobrevivente, espécie quase extinta. Preciso ser preservada, agora você me entende? Não posso cair de amores e me desmantelar. Sou testemunha viva, ocular. Acreditei no amor livre, na casa de campo, nos meus livros, meus filhos, meus filmes, meus vícios e nada mais. Amor e paz. Tenho tatuagem no braço, vontade de amar, sou reincidente. Ainda hoje me emociono com estrela cadente, sol vermelho, fruta no pé. E não vou me modificar. Quem não arriscou, que arriscasse. Quem não idealizou, que o fizesse. Sonho e lembrança é tudo a mesma coisa. Não é tarde se as tartarugas estão voltando. Ainda posso esperar.
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